Já faz um tempo que, dentre tantos outros projetos literários, eu trabalho em mais um que tomei a ousadia de batizar-lhe de “Cabedelo – da colonização ao século XXI”. Não sei se irei concluí-lo antes de viajar para o céu das andorinhas, mas já andei escrevendo algumas páginas. Imerso em minhas pesquisas ao lusco-fusco, encontrei um fato que, apesar de cômico, bem que poderia ser trágico, envolvendo o cabedelense Aderbal Piragibe.
Aderbal, para os mais jovens, foi um jornalista e habilidoso poeta cabedelense que, por sinal, é muito mal divulgado e reconhecido na cidade que lhe serviu de berço.
O fato envolveu Aderbal Piragibe que, segundo Joacil de Brito, “era um panfletário de sete fôlegos” e o jornalista Antônio Bôtto de Menezes, que na época, dirigia o jornal O Combate, que circulava em João Pessoa.
Bôtto de Menezes estava em uma conflitante polêmica jornalística com Aderbal travada através das letras. Bôtto usando o jornal O Combate e Aderbal seus panfletos extremamente populares quando Bôtto de Meneses se envolveu em um romance secreto, secreto por motivos até então “desconhecidos”, exceto para Aderbal.
Segundo Joacil Pereira, contou-se que em uma dessas noites calientes com seu romance secreto, e agora sim sabe-se o motivo, Bôtto pulou o muro da casa da mulher com quem namorava secretamente e não teve tempo de vestir a roupa toda porque o marido atirava no fundo do muro ao qual ele pulou desesperadamente. Os estudantes, contemporâneos seus, para galhofar-lhe, cantavam uma modinha horrível que dizia:
Ai, Margarida, ai Margarida.
Eu vi Antônio Boto seminu pela avenida.
Ao responder a uma das provocações de Antônio Bôtto, Aderbal que não era de ficar para traz, escreveu um artigo mencionando este episódio.
Indignado com a exposição do caso e, como Aderbal Piragibe fez menção ao fato, Bôtto também fez um artigo violento no seu jornal O COMBATE e foi matar Aderbal no antigo Café Moderno, que ficava onde foi a Farmácia Régis, no Ponto de Cem Réis, no Centro da Capital.
Bôtto atirou em Aderbal, que se escondeu por trás dumas latas de doce empilhadas. No final de contas, Bôtto errou todos os tiros. Então Aderbal faz outro artigo com nova provocação em cima de Bôtto, que termina assim: “Bôtto, a poeira por mais que se levante do solo, tangida pelos ventos, é sempre pó. A ostra, ainda que esteja submersa nos fundos dos oceanos, é sempre ostra. Não sobreviverás à tua infâmia”. E não se teve mais notícias da continuidade da provocação.